Nome: Bruna Gonçalves Lopes Ferreira da Silva Matrícula: C68938-6
Nome: Cibelle Graziela Lessa Matrícula: T43802-0
Nome: Rafael Pereira da Silva Matrícula: C530FF-8Redigido por Cibelle Lessa
Publicado originalmente em 1937, Capitães da Areia, de Jorge
Amado, denuncia a situação de abandono em que se encontram os meninos de ruas
nas cidades brasileiras e política da regeneração pela violência. Trata-se de uma ficção que visa denunciar a situação de abandono em que
se encontram os meninos de rua. Por isso, é considerado um romance de denúncia
social.
Jorge Amado narra a
história de personagens, unidas pela miséria, mas também pelo crime, que agem
como quadrilheiros juvenis e praticam pequenos furtos em Salvador. Eles formam
os “Capitães da Areia”. Levavam vida nem sempre fácil, arranjando o que comer e
o que vestir, ora carregando uma mala, ora furtando carteiras e chapéus, ora
ameaçando homens, por vezes pedindo esmola.
Tendo
morado na Cidade de Deus, Paulo Lins,
autor do romance, conhece o cotidiano, as histórias, a violência e toda a vida
do local, da favela que dá título à obra. Dessa forma, a história narrada em
Cidade de Deus é baseada em fatos reais. Nos
anos 1960, Cidade de Deus é um complexo habitacional recém-construído longe
do centro do Rio de
Janeiro, com pouco acesso à eletricidade e
água. Três ladrões amadores conhecidos como "Trio Ternura"
aterrorizam os negócios locais. Eles dividem parte do dinheiro roubado com os
habitantes da favela e, em troca, são protegidos por eles. Vários garotos
acompanham e idolatram o trio, e, um deles, chamado de Dadinho, os convence a
roubar um motel. A gangue concorda, porém, decide não matar ninguém e, achando
que Dadinho é pequeno demais para participar, deixa ele como vigia.
Insatisfeito, Dadinho dá um tiro de advertência no meio do roubo e procede para
satisfazer seu desejo assassinando todos ocupantes no motel. O massacre chama a
atenção da polícia, fazendo com que o Trio Ternura deixe a favela.
Como qualquer grupo
organizado, os Capitães da Areia têm
uma base e um líder. A base é o trapiche abandonado onde dormem “em companhia
dos ratos, sob a lua amarela”. Todos os
integrantes dos Capitães da Areia são todos muito jovens e têm trajetórias
semelhantes de abandono nas ruas de Salvador. O
líder é Pedro Bala, um adolescente loiro e bom de briga que conquista a
liderança do grupo. Mas o chefe dos
Capitães da Areia também é um menino solitário: órfão, porque nunca soube de
sua mãe, e seu pai morrera durante uma greve, há dez anos vagabundeia pelas
ruas da Bahia.
Em Cidade de Deus, vê-se
o surgimento das quadrilhas e seus pequenos assaltos, movidos mais pela vontade
de obter dinheiro e levar uma vida mais confortável do que pela sede de poder.
A atuação da polícia no combate ao crime é, apesar de violenta, efetiva.
Um aspecto interessante Capitães de Areia é a sexualidade dos meninos de rua. A presença desse elemento, que por sinal é marcante na obra de Jorge Amado, aparece por mais de uma vez, mas não de uma maneira romântica, idealizada. Na verdade, acostumados a viver submetidos a um código próprio o sexo surge como uma descoberta instintiva e desregrada. Desse modo, os Capitães da Areia falavam naturalmente em mulher. Cedo conheciam os mistérios do sexo. Mas este conhecimento que tinham do sexo era tão violento quanto à vida que levavam- não havia amor. Disso sobressai o microcosmo em que os meninos de rua vivem: o trapiche é a casa deles, mas também a porta aberta para o mundo.
Cidade de Deus se aproxima dos romances real-naturalistas na medida
em que há uma animalização das personagens (imposição do poder através da “lei
do mais forte”, a crueldade, o apetite sexual desgovernado, etc.) e também um
exagero nas descrições de pormenores das brutalidades narrados.
No ambiente hostil de
fome, violência, criminalidade, desprezo social, no submundo da cidade de
Salvador em que vivem os Capitães da
Areia, enfim, um dos medos que aflige os meninos de rua é a doença. Além disso, a polícia é uma ameaça constante
na vida dos Capitães da Areia. O
episódio da narrativa mais representativo disso dá-se com a prisão de Pedro
Bala, que, mandado ao Reformatório, experimenta o tratamento oficial para
reformar e regenerar crianças e adolescentes desviados. A prisão de Pedro Bala é o mote para desvelar
a máscara da política estatal. Crianças e adolescentes são reformados na base
da porrada. O Estado alcança os jovens delinquentes, mas não para propiciar os
direitos suprimidos, a escola, a saúde, a educação não vêm. O que chega aos
meninos de rua é a mão forte do reformatório, que lhes cassa a liberdade,
soqueia, senta a cinta, vibra o chicote. O Estado apresenta-se ainda mais
violento que as ruas de Salvador.
No reformatório, onde deveria se regenerar, Pedro Bala passas seus dias na solitária, cheio de fome e sede, que lhe dão tempo para pensar. E tudo no que pensa é no ódio, no desejo de vingança. No reformatório baiano da pobreza, o chefe dos Capitães da Areia aprende a suportar as dores no corpo espancado e a sobreviver com pouca água, quase nenhuma comida.
Em Cidade de Deus,
os homens impiedosos que coordenam aquele lugar são ainda garotos. Em outros
lugares, as crianças dessa idade brincam com armas de brinquedo; os garotos
disparam tiros reais com armas reais. As cenas descrevem a favela como um local
de perversão e transgressão onde a mensagem é: mesmo que você viva no inferno,
a vida não é uma mera questão de chance, mas uma questão de escolha. A prática de crimes como homicídio e tortura,
entre outros, é uma constante, já que crianças e adolescentes, para ascenderem
dentro do mundo do narcotráfico e conquistarem prestígio no grupo, devem
desenvolver uma história de violência.
Apesar de toda tragédia,
Capitães da Areia reserva momentos
de lirismo. É quando se revela que os temidos jovens delinquentes, que cresciam
e se afirmavam no uso da navalha e do punhal, também possuíam a capacidade de
maravilhar-se com um brinquedo. Porque o carrossel, no fundo, era apenas isto:
um brinquedo para quem não tivera a chance de brincar como qualquer outra
criança. Um brinquedo para aqueles que queriam esquecer tudo, toda a miséria e
abandono, e ser “iguais a todas as crianças”. Já Cidade de Deus não fala apenas de
uma questão sócio-política brasileira, mas sim, de uma questão global. Trata das
sociedades que se desenvolvem na periferia do mundo civilizado e da infância
perdida.
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