sábado, 11 de novembro de 2017

Capitães da Areia / Cidade de Deus

Nome: Bruna Gonçalves Lopes Ferreira da Silva               Matrícula: C68938-6
Nome: Cibelle Graziela Lessa                                             Matrícula: T43802-0
Nome: Rafael Pereira da Silva                                            Matrícula: C530FF-8

Redigido por Cibelle Lessa

Publicado originalmente em 1937, Capitães da Areia, de Jorge Amado, denuncia a situação de abandono em que se encontram os meninos de ruas nas cidades brasileiras e política da regeneração pela violência. Trata-se de uma ficção que visa denunciar a situação de abandono em que se encontram os meninos de rua. Por isso, é considerado um romance de denúncia social.

Jorge Amado narra a história de personagens, unidas pela miséria, mas também pelo crime, que agem como quadrilheiros juvenis e praticam pequenos furtos em Salvador. Eles formam os “Capitães da Areia”. Levavam vida nem sempre fácil, arranjando o que comer e o que vestir, ora carregando uma mala, ora furtando carteiras e chapéus, ora ameaçando homens, por vezes pedindo esmola.

Tendo morado na Cidade de Deus, Paulo Lins, autor do romance, conhece o cotidiano, as histórias, a violência e toda a vida do local, da favela que dá título à obra. Dessa forma, a história narrada em Cidade de Deus é baseada em fatos reais. Nos anos 1960, Cidade de Deus é um complexo habitacional recém-construído longe do centro do Rio de Janeiro, com pouco acesso à eletricidade e água. Três ladrões amadores conhecidos como "Trio Ternura" aterrorizam os negócios locais. Eles dividem parte do dinheiro roubado com os habitantes da favela e, em troca, são protegidos por eles. Vários garotos acompanham e idolatram o trio, e, um deles, chamado de Dadinho, os convence a roubar um motel. A gangue concorda, porém, decide não matar ninguém e, achando que Dadinho é pequeno demais para participar, deixa ele como vigia. Insatisfeito, Dadinho dá um tiro de advertência no meio do roubo e procede para satisfazer seu desejo assassinando todos ocupantes no motel. O massacre chama a atenção da polícia, fazendo com que o Trio Ternura deixe a favela.
Como qualquer grupo organizado, os Capitães da Areia têm uma base e um líder. A base é o trapiche abandonado onde dormem “em companhia dos ratos, sob a lua amarela”.  Todos os integrantes dos Capitães da Areia são todos muito jovens e têm trajetórias semelhantes de abandono nas ruas de Salvador. O líder é Pedro Bala, um adolescente loiro e bom de briga que conquista a liderança do grupo.  Mas o chefe dos Capitães da Areia também é um menino solitário: órfão, porque nunca soube de sua mãe, e seu pai morrera durante uma greve, há dez anos vagabundeia pelas ruas da Bahia.   

Em Cidade de Deus, vê-se o surgimento das quadrilhas e seus pequenos assaltos, movidos mais pela vontade de obter dinheiro e levar uma vida mais confortável do que pela sede de poder. A atuação da polícia no combate ao crime é, apesar de violenta, efetiva.

Um aspecto interessante Capitães de Areia é a sexualidade dos meninos de rua. A presença desse elemento, que por sinal é marcante na obra de Jorge Amado, aparece por mais de uma vez, mas não de uma maneira romântica, idealizada. Na verdade, acostumados a viver submetidos a um código próprio o sexo surge co­mo uma descoberta instintiva e des­regrada. Desse modo, os Ca­pitães da Areia falavam naturalmente em mulher. Cedo conheciam os mistérios do sexo.  Mas este conhecimento que tinham do sexo era tão violento quanto à vida que levavam- não havia amor. Disso sobressai o microcosmo em que os meninos de rua vivem: o trapiche é a casa deles, mas também a porta aberta para o mundo.

Cidade de Deus se aproxima dos romances real-naturalistas na medida em que há uma animalização das personagens (imposição do poder através da “lei do mais forte”, a crueldade, o apetite sexual desgovernado, etc.) e também um exagero nas descrições de pormenores das brutalidades narrados.
No ambiente hostil de fome, violência, criminalidade, desprezo social, no submundo da cidade de Salvador em que vivem os Capitães da Areia, enfim, um dos medos que aflige os meninos de rua é a doença.  Além disso, a polícia é uma ameaça constante na vida dos Capitães da Areia. O episódio da narrativa mais representativo disso dá-se com a prisão de Pedro Bala, que, mandado ao Reformatório, experimenta o tratamento oficial para reformar e regenerar crianças e adolescentes desviados.  A prisão de Pedro Bala é o mote para desvelar a máscara da política estatal. Crianças e adolescentes são reformados na base da porrada. O Estado alcança os jovens delinquentes, mas não para propiciar os direitos suprimidos, a escola, a saúde, a educação não vêm. O que chega aos meninos de rua é a mão forte do reformatório, que lhes cassa a liberdade, soqueia, senta a cinta, vibra o chicote. O Estado apresenta-se ainda mais violento que as ruas de Salvador.  

No reformatório, onde deveria se regenerar, Pedro Bala passas seus dias na solitária, cheio de fome e sede, que lhe dão tempo para pensar. E tudo no que pensa é no ódio, no desejo de vingança. No reformatório baiano da pobreza, o chefe dos Capitães da Areia aprende a suportar as dores no corpo espancado e a sobreviver com pouca água, quase nenhuma comida.
Em Cidade de Deus, os homens impiedosos que coordenam aquele lugar são ainda garotos. Em outros lugares, as crianças dessa idade brincam com armas de brinquedo; os garotos disparam tiros reais com armas reais. As cenas descrevem a favela como um local de perversão e transgressão onde a mensagem é: mesmo que você viva no inferno, a vida não é uma mera questão de chance, mas uma questão de escolha.  A prática de crimes como homicídio e tortura, entre outros, é uma constante, já que crianças e adolescentes, para ascenderem dentro do mundo do narcotráfico e conquistarem prestígio no grupo, devem desenvolver uma história de violência.

Apesar de toda tragédia, Capitães da Areia reserva momentos de lirismo. É quando se revela que os temidos jovens delinquentes, que cresciam e se afirmavam no uso da navalha e do punhal, também possuíam a capacidade de maravilhar-se com um brinquedo. Porque o carrossel, no fundo, era apenas isto: um brinquedo para quem não tivera a chance de brincar como qualquer outra criança. Um brinquedo para aqueles que queriam esquecer tudo, toda a miséria e abandono, e ser “iguais a todas as crianças”. Já Cidade de Deus não fala apenas de uma questão sócio-política brasileira, mas sim, de uma questão global. Trata das sociedades que se desenvolvem na periferia do mundo civilizado e da infância perdida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário